O masculino em revisão

Mulher
17.out.2017

Há cerca de quinze anos, a mídia em nosso país passou a divulgar uma imagem do sexo masculino como “confuso e assustado” diante dos novos posicionamentos femininos. À época, muito se comentou acerca de que a performance no trabalho teria deixado de ser suficiente para que muitos homens se sentissem seguros diante das mulheres ao seu redor. Até hoje, volta e meia este assunto ainda pulula nos meios de comunicação. Mas o que seria isso, afinal?

É fato que exista hoje um maior interesse em compreender as mulheres em suas nuances atuais. Há os que buscam se afastar um pouco da ótica competitiva que costuma nortear as ações e relações masculinas e desistem de ser os “eternos vencedores”. Isso faz com que haja espaço para um homem mais “humanizado”.

Um bom exemplo: como sabemos todos, homens não costumam entrar numa discussão se não tiverem domínio do assunto em pauta. Em paralelo eles, em geral, costumam ter muita dificuldade em falar de suas angústias. Vemos aqui dois bons motivos para que prefiram não conversar com suas parceiras sobre sentimentos e problemas de relacionamento. Melhor então é simplificar as tentativas das parceiras de conversar, chamando-as de “falatório”, “bronca” ou “reclamação”.

Por outro lado, apesar de seu tradicional maior interesse no outro e sua disposição para melhorar as coisas nas relações afetivas, as mulheres escutam repetidamente que devem evitar “discutir a relação” e que não devem ser “assertivas” com seus parceiros afetivos. Isso ocorre porque o pensamento masculino predominante entre nós costuma interpretar assertividade e capacidade argumentativa como uma atitude masculina, portanto competitiva. A mulher dita pejorativamente “poderosa”, (significando apenas “mulher com vontade própria”), ainda incomoda e aborrece.

A questão vem melhorando gradualmente e minha impressão é que os homens estão aprendendo a dialogar e a argumentar dentro das relações amorosas sem chegar a um confronto. Ainda há os que se referem com desdém às tentativas femininas de conversar, mas muitos já trilham o caminho do entendimento lado a lado com suas parceiras.

O lado bom é ver que cada vez menos mulheres aceitam se relacionar com homens que não as entendam ou que não entendam o funcionamento feminino. Isso levou tempo para acontecer e ainda está evoluindo. Finalmente, ficou claro que o ser masculino desejava uma estabilidade emocional e afetiva ao lado de suas companheiras, mas sem precisar se expor. O que é compreensível até, se pensarmos que os queixosos de alguns anos atrás preferiam não ter de  abrir mão de sua posição hegemônica na sociedade. Afinal, essa história de “supremacia” deve ser mesmo uma coisa difícil de se dispensar…

simone_sotto_mayor

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