O amor e a generosidade

Comportamento
05.abr.2016

Quando pensamos em generosidade, vem-nos a indagação: o que pode fazer com que pessoas sejam mais ou menos generosas? Existiria uma maior, digamos assim, aptidão à generosidade? Ou seria ela uma espécie de “luxo” da alma, que dependeria de cultivo para chegar à sua melhor forma? O que sabemos, afinal, sobre a generosidade? Vamos lá: sabemos que ela é subjetiva, espontânea, singular…  E o que mais?

Para começar, temos um detalhe muito importante e que não pode ser deixado de lado. É que, para ser generosa, é preciso, antes de tudo, que a pessoa seja íntegra. Por que? Porque a generosidade é um ato de amor, mas não dirigido a alguém em especifico. Trata-se do desejo de pautar a própria vida por um amor mais amplo e abrangente do que aquele já existente em nossas relações pessoais.

Nas relações com os que amamos, vemos a generosidade brotar facilmente…  Sim, é praticamente impossível amar sem dar, pois o amor nos faz sentir alegria por poder ofertar algo a quem amamos. Muito provavelmente, generosidade é algo que não nos faltará quando amarmos, ela virá atrelada ao próprio amor.

A questão é: como é possível, entretanto, doar sem amar? É este ponto para o qual os estudiosos do assunto chamam a atenção. É aí que reside a beleza da generosidade. É que, na ausência do amor, aprendemos através da razão, que ao longo da vida se aprimora. Aprendemos, por exemplo, que todo ódio é ruim. Percebemos também que, quando nos deixamos conduzir pela lucidez e discernimento, passamos a desejar aos outros o que queremos para nós mesmos.

Quem tem esta postura diante da vida se esforça, na medida do possível, por combater pela generosidade o ódio, a cólera, o desprezo ou a inveja, que não passam de tristezas ou de causas de tristezas. É interessante assinalar que a generosidade não tem, em princípio, nada a ver com nenhuma religião, ela apenas  sucede às reflexões de alguém sensato.

A conclusão a que chegam alguns autores que se ocuparam deste tema é que a generosidade corresponde ao esforço de alguém por agir, na falta do amor, como se amasse. É esta a ideia da generosidade: não um amor, mas um desejo de alegria e de partilha, pelo qual um individuo se esforça por ajudar seu semelhante e estabelecer com ele uma relação positiva.

O espírito da generosidade é que o ódio deve ser vencido pelo amor, a tristeza pela alegria, e assim por diante. Esta seria a grande função da generosidade.  O generoso ama o amor, o que, em outras palavras, significa regozijar-se com a ideia de que o amor existe, e também esforçar-se por fazê-lo advir.

Mas atenção: não estamos aqui falando de viver além do bem e do mal, isso não seria possível mesmo. Mas seria muito bom termos em mente que a generosidade nos eleva em direção aos outros e, poderíamos dizer, em direção a nós mesmos, libertando-nos de nosso pequeno eu…

assinatura_simone

 

 

Artigos relacionados

23 out

Coisas que sentimos

É muito curioso nos determos no exame mais acurado de algumas particularidades da nossa vida mental. Ou seja, como funcionamos, como estamos psiquicamente estruturados? Cada um de nós tem uma forma própria de ser e de interagir com o mundo. Ao longo da vida, todos passamos por momentos em que tudo fica meio desconfortável, com […]

  • 1891
Comportamento
31 mar

A confiança nos encontros da vida

Quando pensamos em autoconfiança, supomos que, com ela, somos capazes de agir, tomar atitudes. O que não pensamos é que a confiança em si é algo que se adquire, não se nasce com ela. Como descobrir nossos recursos e talentos, sem colocá-los à prova? Sempre será necessária uma primeira vez, bem como alguns primeiros passos […]

  • 642
Comportamento
19 maio

A “Inveja Boa”

Se tem uma coisa de que nunca conseguimos falar é da nossa inveja. “ ‘Nossa’, como assim?”, poderia dizer quem me lê, querendo logo se ver fora da lista. Nossa mesmo, ué, já que somos todos passíveis de experimentar a tal da inveja, sendo esta inclusive uma notícia antiga, conhecida por todos. Não conseguimos, isso […]

  • 4680
Comportamento