A coragem de vencer os próprios medos

Comportamento
22.mar.2016

Já reparou que quando pensamos se gostaríamos de renunciar ao que temos num dado momento, para nos engajar num novo caminho, entramos de imediato em contato com o medo? O tão propalado medo da mudança, do desconhecido, se instala sem ser convidado e causa logo um certo desconforto. Isso é normal? Claro que sim, diríamos. Se não ousamos, mantemos longe o medo de nos lançar e nos arrepender depois. Porque, eventualmente, podemos vir a não encontrar nada que compense o que estamos prestes a abandonar.

Este tipo de medo é tão legítimo, que poderíamos até dizer  tratar-se de uma fase a ser ultrapassada para chegarmos à coragem. Nada a ver, diria alguém mais apressado. Mas é verdade, alguns estudiosos já até definiram a coragem de uma forma bem interessante:  ela não seria simplesmente a ausência dos medos e sim, a possibilidade de não termos mais medo de nossos medos. Ou seja, o que precisamos é aprender a avançar apesar do medo. Não é uma boa percepção??

Quando nos apresentamos, finalmente investidos de coragem, costumamos mobilizar algumas reações à volta: é só esperar e pessimistas aparecerão, tentando nos dissuadir, dizendo que é impossível, que outros antes de nós tentaram…  Contra um sonho declarado, eles vão levantar uma conjuntura, uma condição do mercado, ou uma nova ordem mundial qualquer. E isto é precisamente tudo o que uma boa dose de coragem pode modificar.

Nossa coragem precisa, entretanto, de um certo ambiente favorável para se desenvolver.  É preciso tomar cuidado para não sufocá-la logo no nascedouro. Como isso poderia acontecer? É que a soma das nossas “pequenas covardias” pode ir devastando pouco a pouco nosso potencial de coragem. Ao contrário, o conjunto de nossos “atos de resistência” (cada um de nós sabe dos seus) por mínimos que sejam, nos fortalece para as grandes decisões.

Hoje em dia, vamos ter muitas vezes a sensação de que a sociedade em que vivemos não favorece a coragem. É que há entre nós uma questão que a refreia: a “cultura do resultado”. A coragem fica mais distante dos que são obcecados por resultados imediatos e, nesse caso, basta a perspectiva de falhar para que fiquemos paralisados, diante do medo do fracasso. Em geral, em situações deste tipo, preferimos encobrir nossa covardia a alegamos “prudência”. Não notamos ainda que, sempre que damos uma prova de coragem, estamos cultivando um pouco mais a nossa vontade e a nossa liberdade.

E, por fim, é bom lembrar que podemos sofrer derrotas, mas o verdadeiro fracasso é jamais correr o risco de falhar. Pautando nossa vida por uma constante falta de coragem para ousar, corremos o risco de chegar ao fim da vida com a angústia de ter vivido sem ousar tentar ser, de verdade.

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