Aprendendo a fazer vínculos

Filhos
27.mar.2018

A ideia de comunidade vem desaparecendo e com ela seu conceito de consciência e aceitação da dependência recíprocas, por compromisso, lealdade, solidariedade e confiança. A vida em comunidade, com a solidariedade florescendo naturalmente entre as pessoas, tem dado lugar a uma existência mais individualista, onde as pessoas são levadas não a colaborar, mas a competir entre si. Assim é a sociedade de consumo em que estamos inseridos.

A intimidade no seio das famílias, ou mais especificamente, entre pais e filhos, também vem perdendo terreno nos dias atuais. A intimidade abrangente e de tempo integral, que era a escola natural do companheirismo humano, vem sendo substituída pelos tipos de contato hoje em voga, onde as interações entre as pessoas são cada vez menos intensas e mais fugazes.

Qual seria o papel das famílias nesse novo cenário? O que estaria ao alcance das famílias fazer para deter o furor do movimento dos viciados em satisfação a curtíssimo prazo? Para começar, é preciso entender que as crianças e os adolescentes necessitam de um espaço  seguro para aprenderem a formular e exprimir suas opiniões. Pais muito críticos ou controladores, por exemplo, não conseguem propiciar esse espaço, já que os filhos tem medo de expressar suas opiniões e até de ter suas opiniões. Sabem que serão massacrados se opinarem numa direção diferente da dos pais. Assim, preferem fazer relatos vazios contando suas experiências sem se colocar, caso alguém os indague.

Um passo básico para estimular a solidariedade é não apoiar ou incentivar comparações com os colegas, tão comuns e aparentemente inofensivas, mas que inevitavelmente alimentam a competição. Ensinar a comparação consigo mesmo é uma das chaves para o crescimento individual e a maturidade.

Mas o maior segredo para desenvolver a intimidade no interior das famílias é criar espaços de convivência. O que seria isso? Compartilhar experiências, como levar para conhecer a cidade, assistir a filmes, peças de teatro, exposições… Fundamental é trocar impressões depois, estimular a expressão da crítica e com o tempo promover debates. Há que se ter sempre em mente a ideia de que ouvir é mais importante que falar, pois o que se quer é que os filhos aprendam a refletir e emitir com segurança suas opiniões.

Espaços de convivência criados a partir de passeios ou viagens são oportunidades maravilhosas. Ao mesmo tempo, propiciam que os filhos sejam apresentados a um mundo de diversidades (hábitos, artes, culinárias) e que a intimidade seja revigorada, com pensamentos e reflexões compartilhadas. É preciso apreciar conversas e ter prazer em saber do outro, mas isso também se adquire nos momentos de convivência. A percepção de que existe um ganho em riqueza interior é imediata. Dá para sentir a intimidade e a proximidade, o companheirismo, a união, o aumento dos afetos, a consolidação dos vínculos, o gosto da risada compartilhada, o aprendizado de rir de si mesmo, indispensável para o amadurecimento… Afinal, quem não ri de si mesmo e se leva a sério demais, corre o risco de estar “se achando” e, na verdade, simplesmente não ser seguro o suficiente de si.

 

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