A escolha da profissão

Filhos
24.fev.2015

Em nossos dias, ouve-se muito falar que não se deve “influenciar” as escolhas dos filhos em relação à carreira que queiram seguir. Que as escolhas brotarão espontaneamente, quando for a hora. Como em muitos outros casos, uma dose de bom-senso se faz ausente, e  a compreensão passa a ser: “não se deve intervir de jeito nenhum”.

Aqui, vale uma observação: uma coisa é orientar, ajudar a pensar, ou mesmo pensar junto, quando existe muita dúvida a respeito de algum tema. Outra é não deixar espaço ao filho e tentar lhe impor a própria vontade.

Para trilhar este novo caminho de pensar, podemos começar indagando a nós mesmos, pais, se nos imaginaríamos sendo do jeito que somos hoje, quando, lá atrás, escolhemos nossa profissão. Provavelmente não, e mais: muitos dos nossos sonhos e metas foram criados a partir de necessidades pessoais, surgidas ao longo de nossa trajetória de vida. Independentemente da profissão escolhida, o que saberíamos, na adolescência, de nossas futuras necessidades, anseios ou desejos?

Hoje, é comum a pessoa exercer uma profissão completamente diferente daquela em que se graduou na faculdade. As pós graduações, cada vez mais necessárias para uma boa inserção no mercado de trabalho, é que vão definir de verdade a trajetória profissional de alguém. Com o tempo, a pessoa vai acabar se encaminhando para alguma área onde se sinta mais à vontade e onde possa se desenvolver com mais facilidade e satisfação. Como todos temos diversos talentos, é o caso de se repensar a história do “eu não seria feliz se não fizesse isto”. Não fomos feitos para “dar certo” em uma só atividade, podemos exercer diversas com alegria.

Uma intervenção pragmática por parte dos adultos pode ajudar, já que muitas vezes se vê os jovens, sobretudo hoje em dia, sonharem com um sucesso profissional para o qual não se preparam. Acham que são especiais, que merecem o sucesso, e que ele praticamente lhes é devido. Ajudá-los a entender suas verdadeiras chances,  situá-los num mundo que se torna mais e mais  competitivo, será de grande valia. Uma atitude sensata passa por auxiliá-los a não acreditar em facilidades ilusórias. O caminho é árduo, mesmo que se faça o que se goste. E trabalho não é diversão, como parece ser a expectativa de muitos, que imaginam vir a lidar com algo de que gostem tanto, que trabalhar chegaria a ser “divertido”, praticamente um lazer.

Será de grande ajuda, por exemplo, conversar com os filhos sobre o estilo de vida que pretendem levar. É comum adolescentes não terem ideia de quanto custa o tipo de vida que levam na casa dos pais. Uma conversa objetiva vai ajudá-los a se inserir na realidade. Mostrar como está o panorama para as profissões em questão com certeza ajudará. Falar do mercado de trabalho, trazer dados da vida real para conversar, sem medo de estar se intrometendo.

Por receio de “oprimir”, nós, pais, preferimos muitas vezes nos omitir completamente. Ou então, nos fechamos numa única posição, impossibilitando o debate. Atribuímos as dúvidas de nossos filhos ao suposto fato de terem de escolher “tão cedo” uma profissão. Esquecemos que conosco foi igual, as coisas não mudaram tanto assim. E participar deste processo não precisaria ser tão complicado, como tem sido para tantos de nós.

assinatura_simone

 

Artigos relacionados

20 maio

Filhos Adultos: Conviver, sim, invadir, não!

A partir do momento em que conseguimos nos despedir do papel de pais, torna-se mais fácil nos relacionarmos, de forma não intervencionista, com nossos filhos adultos. Os melhores relacionamentos entre pais e filhos nesta fase, encontram-se em famílias onde os pais foram capazes de manter o respeito e a admiração de seus filhos, mas também […]

  • 1896
Filhos
27 mar

Aprendendo a fazer vínculos

A ideia de comunidade vem desaparecendo e com ela seu conceito de consciência e aceitação da dependência recíprocas, por compromisso, lealdade, solidariedade e confiança. A vida em comunidade, com a solidariedade florescendo naturalmente entre as pessoas, tem dado lugar a uma existência mais individualista, onde as pessoas são levadas não a colaborar, mas a competir […]

  • 1633
Filhos
31 jul

Da boca pra fora

Você já reparou como se ensina as crianças a se desculparem? “Vai lá e pede desculpas” e o pequeno transgressor grita, grunhe ou cospe aquela palavrinha mágica e sai, absolvido. Em geral sem o menor arrependimento, pronto pra próxima, quando agirá exatamente da mesma forma. “Ai, que chata você, vai dizer que tem outra maneira […]

  • 1117
Filhos