Filhos Adultos: Conviver, sim, invadir, não!

Filhos
20.maio.2014

A partir do momento em que conseguimos nos despedir do papel de pais, torna-se mais fácil nos relacionarmos, de forma não intervencionista, com nossos filhos adultos. Os melhores relacionamentos entre pais e filhos nesta fase, encontram-se em famílias onde os pais foram capazes de manter o respeito e a admiração de seus filhos, mas também evoluíram de pais para amigos  deles.

Entenda-se por “amigos” algo que tem a ver com afeto profundo, solidariedade e intimidade, acompanhado de respeito à forma de ser de cada um. Não confundir com qualquer tentativa caricata de ser jovem como eles, o que seria uma fuga da realidade do próprio envelhecimento e uma competição, de antemão perdida, claro, com a exuberante juventude de quem está na vez de vivê-la.

Em nosso país, o culto ao novo, subproduto do consumismo amplamente assimilado, se apresenta em sua forma mais crua, sem disfarces ou retoques. Neste caso, as relações humanas em geral são fortemente contaminadas por esta lógica. Assim, o “novo” passa a ser sempre “melhor”, e o que é “velho” não tem valor, devendo ser descartado o quanto antes.  Da mesma forma que ser jovem é “o máximo”, “velho” é o diagnóstico para os que “já estão mortos e não desconfiam”… Ou seja, dos que já foram descartados, não contam mais.

O horror a tal “descarte” torna difícil para a maioria de nós tornar-se “amigo” (da forma como foi colocada acima) dos nossos filhos adultos. Muitos de nós acabam por fazer um enorme esforço para parecer-se com eles, usando as mesmas roupas, adotando os mesmos modos e até o mesmo palavreado.

Mas, é preciso insistir, são posturas bem diferentes: uma coisa é aprender a comunicar-se com eles, estar no mesmo mundo, não se alienar, mas continuar a ter seu próprio universo e sentir-se confortável nele. É poder “ficar na sua”. Outra coisa é tentar entrar à força num mundo que não lhe pertence, sem tratar de recriar o seu próprio, ao final do período de criação dos filhos. Pode parecer sutil, mas fará muita, mas muita diferença…

assinatura_simone

 

 

Este texto é uma continuação da série “Filhos Adultos“. Confira o primeiro texto da série “Filhos adultos: como conviver?” e sua continuação “Filhos Adultos: Convivendo com as diferenças

Artigos relacionados

14 out

Pseudoterapias: o que são?

Dia desses, li que o número de crianças em terapia tem aumentado nos últimos anos e que “estar em terapia” virou sinal de status: pacientes de 9 anos só estariam fazendo  terapia porque os amigos também fazem. Fico sabendo ainda que, em determinados grupos, “fazer terapia” tornou-se algo tão bem-visto quanto usar marcas de certas […]

  • 3685
Filhos
11 fev

A consagração do “ficar”

Às vezes assistimos à consolidação de um determinado comportamento que foi se generalizando sem que nos déssemos conta e, em dado momento, achamos estranho ele estar ali, estabelecido como se sempre tivesse estado. Aí, nos indagamos como aquele movimento surgiu, como ele chegou àquele ponto, àquele lugar e o não acompanhamos? Com o ficar foi […]

  • 1098
Filhos
25 set

Sim, juntos à mesa!

Na atribulação em que vivemos, principalmente nos grandes centros urbanos, refeições com a família reunida à mesa vem se tornando raras. Vale a pena fazer um esforço só para manter a tradição? A resposta é um enfático “sim”. Vale a pena estabelecer uma rotina de comer à mesa, com a família reunida, sempre que possível. […]

  • 2262
Filhos