Por que as mulheres rompem mais?

Mulher
03.abr.2018

Todo mundo sabe que são as mulheres quem mais frequentemente rompem um casamento, não é? Mas os números ainda surpreendem: li  recentemente um trabalho do sociólogo francês François de Singly, onde ele afirma que em nada menos de 75% das vezes a iniciativa de pedir o divórcio vem da mulher! Fico surpresa, mas penso que pode ser assim, em países da Europa Ocidental. Paro para pensar nas inúmeras separações que testemunhei ao longo dos anos e me dou conta de que sim, as mulheres são a maioria esmagadora no quesito iniciativa. Pelo menos quando o motivo da separação é o esgotamento da relação, e não o surgimento de um novo romance.

É curioso, mas quando um homem pede a separação pelo mesmo motivo, não costuma ser fácil porque, em geral, a sociedade fica à espera de que uma “outra” venha à luz. Ninguém acredita que ela não exista, e aquele homem não pode mais ser visto, em nenhuma circunstância, ao lado de uma mulher. Se for, será a confirmação do que todos esperam: “Eu vi, eu sabia!! É claro que ele tinha outra!” O pensamento que ainda é quase um consenso é de que os homens nunca deixam suas mulheres, a menos que encontrem outra e escolham se separar. A crença, antiga, é de que eles temeriam “não saber fazer nada em casa sem elas”. Com certeza é um pensamento simplista e machista, mas que talvez tenha lá seus adeptos.  

As mulheres, como se sabe, costumam pagar um preço alto pela decisão de romper. Segundo o mesmo estudo, além de estarem em desvantagem salarial em relação aos homens, as mulheres em geral veriam seu padrão de vida cair em cerca de pelo menos de 20% com a separação. E, muito frequentemente, assumirão a maior parte da responsabilidade de educar os filhos. Então, por quê tantas continuam à frente na hora de decidir pela separação?

O estudo conduzido pelo francês em busca de explicações concluiu que as mulheres têm menos medo de ficarem sozinhas e que a motivação primordial delas é, com frequência, a necessidade de “voltar a se sentir um indivíduo”. É curioso, mas vale pensar no que assinala o autor: os homens não veem desaparecer seu “eu” dentro do casamento. Eles sempre puderam trabalhar e ter seus filhos, uma esposa em casa e, os que quiserem, o bônus de amantes, fixas ou ocasionais. Por isso, afirma o autor, é que os homens nunca lutaram por uma lei que estabelecesse o divórcio. Este ponto me chama a atenção: se pensarmos um pouco, logo nos lembraremos que foram as mulheres que exigiram o direito de se separar de seus maridos, recusando-se a ficar casadas só para manter as aparências. O divórcio, ainda hoje, costuma ser uma modalidade da emancipação feminina: romper e partir para uma nova vida será a forma de uma mulher provar que é capaz, livre e autônoma.

Mas, voltando à questão inicial,  por que os homens ficam? Será porque eles não conseguem entrar em contato com clareza com o que sentem? Será, ainda, porque só se exprimem através dos meios que sua educação de “meninos” lhes permite? Ou seja, talvez não se manifestem sobre o que sentem não porque não querem, mas sim porque não aprenderam como fazê-lo? Pode ser, já que a linguagem das emoções é, com frequência, uma espécie de língua estrangeira e desconhecida para muitos seres masculinos. Mas até isso começa a mudar:  valores ditos femininos estão em alta, e muitos homens jovens passam a  exprimir mais prontamente ( e até de bom grado) o que sentem.

De qualquer forma, o assunto não se esgota facilmente. Na prática, vemos também muitos homens alegarem indisposição para se separar por conta de divisão de patrimônio, pagamento de pensões etc. Alguns se revoltam e acusam as mulheres de se separarem mais simplesmente porque se beneficiam de leis que as protegeriam. Mas esta já é outra conversa, para outro dia…

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